Ontem eu estava caminhando e passei por uma banca que fica na esquina de um antigo lugar em que morei. Lá me deparei com um mangá que nunca ouvi falar, de um autor que eu não conhecia. Não parecia ter nada a ver com super lutadores, robês gigantes e cia então resolvi dar uma chance. As vezes compro as coisas às cegas assim. Estou fazendo esse post tentando limitar o máximo possível os spoilers pois o objetivo é apresentar o trabalho para que vocês corram atrás, caso gostem.
Em casa comecei a desembalar e já notei o belo acabamento das capas, que possuem um tipo de efeito “holográfico”. Assim que abri vi que as três primeiras páginas eram coloridas. O acabamento já me agradou ali.
Inuyashiki trata-se da história de um senhor de 58 anos de idade, que aparenta ter bem mais, vivendo uma vida medíocre. Sua esposa não o respeita, seus filhos não o respeitam e isso fica ainda mais claro quando, página após página, a expressão facial dele reflete quanto sofrimento carrega sobre os ombros. Peso que o leitor consegue notar a ponto de ser angustiante em vários momentos. É pesado ver a falta de respeito que demonstram, saindo de casa para jantar sem levá-lo e deixando-o dormir em um quarto sozinho, por exemplo.
A história se desenrola com o velho adotando o cachorrinho Hanaka, seu único amigo, enquanto continua vivendo dia após dia, até que recebe um baque: Ele descobre que está com câncer e possui apenas mais três meses de vida.
No desenrolar dessa cena um nó na garganta se forma quando vemos a forma que ele envolve, ou tenta envolver, a família nesse momento tão complicado e qual é a reação dos mesmos. Nessa parte me lembrei muito do início de Breaking Bad, com um senhor vivendo no fundo do poço recebendo uma notícia semelhante.
Nesse momento em que tudo parece perdido algo acontece que muda completamente a vida do senhor, mostrando que esse decretado fim pode não passar apenas de um inesperado recomeço. Eu gostaria de terminar os comentários sobre a história em si aqui pois o “algo” que acontece foi uma completa surpresa para mim e acho que é interessante que quem leia tenha a experiência sem spoilers. Inclusive, não pesquise nem por sinopses na internet. Esse fato ocorre lá para a metade do mangá e tem sites que já falam na primeira frase de seus comentários. Só quero dar a dica de que sim, o mangá possui cenas de ação a partir da segunda metade. Nada do nível Dragon Ball mas tem algumas coisas.
Os pontos de destaque são as retratações humanas e muito próximas da nossa sociedade presentes no mangá. Nós ouvimos falar de mendigos apanhando e sendo queimados por jovens de classe média-alta mas ver a representação de algo desse tipo ali, diante dos seus olhos, nos faz refletir e ver o quão real essas coisas são além do noticiário da TV. Ainda sobre a ambientação no mundo real, temos jovens citando alguns animes em trechos da história, o que aproxima mais a história da nossa realidade. Além disso temos um protagonista que não é musculoso ou possui uma origem mágica e sim um senhor desrespeitado, igual vários que cruzamos nas ruas todos os dias, mas que é relevante ao contrário do que muitos pensam. A história nos faz pensar muito em como tratamos os mais velhos, principalmente nossos pais e avós.
Sobre o “autor desconhecido”, após ler fui pesquisar na internet e descobri que Hiroya Oku é nada mais nada menos que o autor de Gantz, obra japonesa famosa (que ainda não pude ler nem assistir), que inclusive é mencionada em um trecho da história. Aparentemente são previstos 10 volumes no Japão, que virão para cá pela Panini e, em outubro desse ano uma versão animada está prevista para sair.
No fim das contas eu fui surpreendido pelo mangá. Recomendo que todos leiam e, futuramente, deve rolar uns boxes dele por aqui.